Olá Giovanna, Lily, Nielee e Karina. Podem me chamar de Nádia, não é meu nome real, mas prefiro me manter no anonimato enquanto não compreendo o que se passa comigo. Sou de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, como vocês, e amo nossa cidade tão encantadora e acolhedora com os imigrantes. Meus pais vieram do Marrocos para cá quando eu era bem pequena, então, não tive muita dificuldade em me adaptar. Mantemos alguns de nossos costumes, mas meus pais amam o Brasil e nem pensam em retornar ao Marrocos.
Sempre tive curiosidade sobre fadas e djinns, mas meus pais nunca gostaram que eu sequer mencionasse essas palavras porque sempre acreditaram que esses seres poderiam ser atraídos se os chamasse em voz alta, então, eu tinha medo. No entanto, quando completei dezesseis anos, eu me senti mais e mais atraída por esse mundo mágico e quando dei por mim, já estava comprando ebooks e pesquisando em sites sobre como invocar essas forças. Eu nunca duvidei que fossem todos reais, nunca, mas eu precisava vê-los para confirmar. Tentei várias vezes persuadir meus pais a me contarem como contatar os djinns, mas eles sempre desconversavam ou brincavam, perguntando se eu queria me casar com um. Sim, humanos podem se casar com djinns, tem cerimônias especiais para isso, eu não sei como funciona, só sei que é possível, embora, eu ache estranho e não sei se teria coragem para isso.
Eu fiz um ritual que minha tia me ensinou quando estava bêbada e ela nem lembra mais de ter me ensinado, mas enfim, pensei que não tinha dado em nada, quando em uma noite, meus primos e eu estávamos sozinhos em casa à noite, assistindo a um filme enquanto nossos pais estavam ajudando na Mesquita. Eu me lembrei dos djinns do nada e pensei que era mesmo besteira, lendas antigas e bobas para assustar crianças e viajantes solitários quando meus primos e eu ouvimos uma pancada forte no alto do teto na varanda. Quis pensar que fosse um gato, mas foi um barulho tão alto como de uma pessoa caindo do alto, sabem? O que quer que tivesse desabado, deu a volta na casa rapidamente e pareceu saltar no telhado dos fundos, próximo ao banheiro, aí o barulho foi mais forte. Nós levantamos apressados, mas não ousamos abrir as portas ou janelas porque já era noite e moramos em um bairro perigoso onde não é incomum que aconteça assaltos. Vivemos aqui há anos. A casa é própria e meus pais gostam daqui e são amigos de todos os vizinhos. Temos um cachorro. E meu pai sempre diz que Alá nos protege e que não devemos temer nada. Aquela noite, eu temi e como temi. Um dos meus primos, acreditando que fosse mesmo um ladrão, tentou intimidá-lo, dizendo que tinha uma arma e que atiraria se ele entrasse. O barulho cessou por alguns minutos, mas depois retornou como uma pancada na parede do banheiro. Acendemos a luz da varanda dos fundos, mas o quintal continuava escuro e ninguém iria querer ir acender a luz dos fundos porque teria que deixar a casa e ir até a casa do meu tio nos fundos. O cachorro estava na sala com a gente e latia como louco. Também não abrimos a porta para soltá-lo mesmo que ele fosse grande porque tudo o que tínhamos era um cachorro e as facas que pegamos na cozinha, e só para vocês entenderem nosso desespero, os bandidos aqui entram armados nas casas, batem, estupram e levam o que podem, nem a luz do dia os intimida. Eu só queria chamar a polícia ou nossos pais, mas meus primos disseram que era melhor esperar senão o pai e o tio poderiam ficar bravos se chegassem e não fosse nada.
Alguns minutos que pareceram longos se passaram e quando já estávamos convencidos que o barulho fora apenas um gato ou dois, algo esbarrou na porta dos fundos ou o melhor na grade da porta - nossas portas tem grades móveis embaixo para o cachorro não entrar para dentro às vezes - e aí sim, nos apavoramos e enquanto um dos meus primos ligava para o pai, e o outro ameaçava novamente aquele intruso, eu arrastei a máquina de lavar na porta por garantia, fui até o meu quarto e coloquei meu celular, meus documentos e outros pertences em uma bolsa e me preparei para fugir pela garagem que dá acesso direto à rua, caso eles entrassem. Gente, eu estava certa que eles entrariam na casa e também no que eles entrassem, eu sabia que eles entrariam por uma porta e eu fugiria por outra. O barulho voltou para o teto e então, eu me lembrei dos djinns. Eu estava tão nervosa que não sabia se era possível que fosse um djinn, parecia mais provável ser um ladrão. Acho que é mais fácil para nós em um momento como esse, buscar a explicação mais realista possível. Djinns eram uma possibilidade e bandidos uma realidade, ainda assim, eu fechei meus olhos com força e pedi desculpas aos djinns.
Nossos pais voltaram e contamos a eles o que houve, eu não mencionei sobre os djinns com medo da bronca, meus pais levam djinns muito a sério e se eu falasse o que fiz, tenho certeza que no mínimo levaria uma surra, é sério. Todos pensaram que eram bandidos e ninguém dormiu antes do amanhecer, vigiando a casa. A noite toda foi aquele clima pesado e tenso, vez ou outra alguma pancada na parede ou no teto nos deixava alertas. Por volta das cinco e pouco quando já estava claro lá fora, nós fomos olhar em volta da casa, mas não havia pegadas, a grama ao redor da parede do banheiro estava amassada em uma trilha quase circular, mas nada de pegadas. A máquina de lavar do meu tio continuava lá fora na casa dos fundos, o que achamos estranho porque os bandidos da região tem fama de não perdoarem nada. Talvez, não tivessem visto já que a luz estava apagada e ela ficou apagada porque nosso tio ficou na nossa casa com a gente a noite toda para ajudar meu pai a nos proteger. A grade na porta dos fundos da nossa casa estava no lugar. Tudo estava no lugar. Na noite seguinte, esperamos que os barulhos voltassem, meu tio já estava em sua casa e manteve as luzes acesas, mas os barulhos não voltaram.
No dia seguinte, eu estava no quintal pesquisando no meu celular sobre o que poderia ter sido aqueles barulhos quando senti uma presença atrás de mim, foi tão forte, eu sabia que era um homem, até achei que era meu tio. O cachorro estava embaixo da minha cadeira e eu passava a mão na cabeça dele enquanto mexia no celular. O cachorro me estranhou de repente e quase mordeu minha mão. Eu me assustei porque ele sempre foi dócil comigo. Ele se virou para trás de mim, rosnando e eu sabia que tinha algo ali ainda que quando eu tivesse me virado, não tivesse visto nada. Eu acho que fiquei mais assustada com o cachorro me estranhando, eu cuido dele desde quando ele era filhote. Meus pais não gostam muito dele por ele ser preto porque acreditam que cães pretos podem facilmente serem possuídos ou manipulados por djinns, ainda assim, eu insisti em ter o cachorro e sempre o protegi. Peguei a coleira e decidi prendê-lo, mas foi difícil com ele querendo me atacar, eu o arrastei com custo para a varanda e quando quis colocar a corrente no lugar de sempre e deixá-lo lá, ele surtou e quis me morder no duro mesmo, eu precisei erguer a corrente com força quase o enforcando para ele se acalmar, então, meu primo veio e o prendeu na garagem. Eu fiquei muito chateada ainda mais quando meu pai falou que ia dar o cachorro. Eu não queria isso. Dois dias depois, quando eu começava a me convencer de que seria melhor ter um labrador amarelo ou mesmo um vira-lata, eu tive um sonho estranho. Eu estava deitada na minha cama e tinha uma névoa negra acima de mim, a névoa era tão densa e grande que circundava toda a casa e no meu sonho, o meu cachorro a via e isso, o deixava tão furioso. No meu sonho, eu saía de casa correndo e me escondia embaixo das árvores, assustada. Eu não sabia onde estava minha família e não me importava. Só queria ficar a salvo. Meu cachorro veio correndo e pulou nos meus braços tão manso quanto antes, ficamos ali por um tempo até a névoa desaparecer, eu fiquei rezando o tempo todo para Alá e acho que foi isso que fez a névoa sumir, quando senti que era seguro, deixei a árvore com meu cachorro e acordei. Na manhã seguinte, quando sai para fora, meu cachorro veio correndo até mim, muito feliz e todo brincalhão, ele nunca mais demonstrou comportamento agressivo. As pancadas também não voltaram. Nunca mais mexi com djinns e sempre tento não pensar neles, é difícil, mas sempre repito "que Alá os afaste de mim e da minha casa". Hoje, quando me lembro disso tudo, tenho certeza de que não eram bandidos e sim, djinns, porque bandidos voltam... Talvez não, mas não acho que eles desistiriam tão fácil. Tomem cuidado quando forem dizer certas palavras em voz alta. Como meus pais dizem, há certas forças que o Homem não pode controlar por mais que tente. Eu ainda amo fadas e estou aprendendo muito sobre elas graças a esse blog incrível, mas nunca mais penso em mexer com djinns. O que vocês acham disso? Um beijo.©
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Nota da Giovanna:
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